O serviço de Unificação
em nossas fileiras é urgente, mas não apressado. Uma afirmativa parece destruir
a outra. Mas não é assim. É urgente porque define o objetivo a que devemos
todos visar; mas não apressado, porquanto não nos compete violentar consciência
alguma.
Mantenhamos o propósito de irmanar, aproximar, confraternizar e compreender, e,
se possível, estabeleçamos em cada lugar, onde o nome do Espiritismo apareça
por legenda de luz, um grupo de estudo, ainda que reduzido, da Obra Kardequiana,
à luz do Cristo de Deus.
Nós que nos empenhamos carinhosamente a todos os tipos de realização
respeitável que os nossos princípios nos oferecem, não podemos esquecer o
trabalho do raciocínio claro para que a vida se nos povoe de estradas menos
sombrias. Comparemos a nossa Doutrina Redentora a uma cidade metropolitana, com
todas as exigências de conforto e progresso, paz e ordem. Indispensável a
diligência no pão e no vestuário, na moradia e na defesa de todos; entretanto,
não se pode olvidar o problema da luz. A luz foi sempre uma preocupação do
homem, desde a hora da furna primeira. Antes de tudo, o fogo obtido por atrito,
a lareira doméstica, a tocha, os lumes vinculados às resinas, a candeia e, nos
tempos modernos, a força elétrica transformada em clarão.
A Doutrina Espírita possui os seus aspectos essenciais em configuração
tríplice. Que ninguém seja cerceado em seus anseios de construção e produção.
Quem se afeiçoe à ciência que a cultive em sua dignidade, quem se devote à
filosofia que lhe engrandeça os postulados e quem se consagre à religião que
lhe divinize as aspirações, mas que a base kardequiana permaneça em tudo e
todos, para que não venhamos a perder o equilíbrio sobre os alicerces e que se
nos levanta a organização.
Nenhuma hostilidade recíproca, nenhum desapreço a quem quer que seja. Acontece,
porém, que temos necessidade de preservar os fundamentos espíritas, honrá-los e
sublimá-los, senão acabaremos estranhos uns aos outros, ou então cadaverizados
em arregimentações que nos mutilarão os melhores anseios, convertendo-nos o
movimento de libertação numa seita estanque, encarcerada em novas
interpretações e teologias, que nos acomodariam nas conveniências do plano
inferior e nos afastariam da Verdade.
Allan Kardec, nos estudos, nas cogitações, nas atividades, nas obras, a fim de
que a nossa fé não faça hipnose, pela qual o domínio da sombra se estabelece
sobre as mentes mais fracas, acorrentando-as a séculos de ilusão e sofrimento.
Libertação da palavra divina é desentranhar o ensinamento do Cristo de todos os
cárceres a que foi algemado e, na atualidade, sem querer qualquer privilégio
para nós, apenas o Espiritismo retém bastante força moral para se não prender a
interesses subalternos e efetuar a recuperação da luz que se derramado verbo
cristalino do Mestre, dessedentando e orientando as almas.
Seja Allan Kardec, não apenas crido ou sentido, apregoado ou manifestado, a
nossa bandeira, mas suficientemente vivido, sofrido, chorado e realizado em
nossas próprias vidas. Sem essa base é difícil forjar o caráter
espírita-cristão que o mundo conturbado espera de nós pela unificação.
Ensinar, mas fazer; crer, mas estudar; aconselhar, mas exemplificar; reunir,
mas alimentar.
Falamos em provações e sofrimentos, mas não dispomos de outros veículos para
assegurar a vitória da verdade e do amor sobre a Terra. Ninguém edifica sem
amor, ninguém ama sem lágrimas.
Somente aqui, na vida espiritual, vim aprender que a cruz de Cristo era uma
estaca que Ele, o Mestre, fincava no chão para levantar o mundo novo. E para
dizer-nos em todos os tempos que nada se faz de útil e bom sem sacrifícios,
morreu nela. Espezinhado, batido, enterrou-a no solo, revelando-nos que esse é
o nosso caminho - o caminho de quem constrói para Cima, de quem mira os
continentes do Alto.
É indispensável manter o Espiritismo, qual foi entregue pelos Mensageiros
Divinos a Allan Kardec, sem compromissos políticos, sem profissionalismo
religioso, sem personalismos deprimentes, sem pruridos de conquista a poderes
terrestres transitórios.
Respeito a todas as criaturas, apreço a todas as autoridades, devotamento ao
bem comum e instrução do povo, em todas as direções, sobre as Verdades do
espírito, imutáveis, eternas.
Nada que lembre castas, discriminações, evidências individuais injustificáveis,
privilégios, imunidades, prioridades.
Amor de Jesus sobre todos, verdade de Kardec para todos.
Em cada templo, o mais forte deve ser escudo para o mais fraco, o mais
esclarecido a luz para o menos esclarecido, e sempre e sempre seja o sofredor o
mais protegido e o mais auxiliado, como entre os que menos sofram seja o maior
aquele que se fizer o servidor de todos, conforme a observação do Mentor
Divino.
Sigamos para a frente, buscando a inspiração do Senhor.
Bezerra de Menezes
(Mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em reunião da Comunhão
Espírita Cristã, em 20-4-1963, em Uberaba, MG.)
(Reformador - dez/1975)